A transferência de Miklós Fehér para o “quarto anel”

O 29 do Benfica despediu-se do futebol e da vida no Estádio D. Afonso Henriques


Primeiro deu um toque a um jogador da equipa rival. Depois viu o cartão amarelo e sorriu para o árbitro. Talvez fosse um sorriso de quem não estava muito preocupado com aquela falta já que o jogo estava prestes a terminar e a sua equipa estava a ganhar. Ou então um sorriso de quem sente que aquele será o último sorriso da sua vida.

Há 15 anos o Benfica viajou até à cidade que viu nascer Portugal para jogar contra o Vitória de Guimarães. E aquela noite de 25 de janeiro foi de intensidades. Dentro do campo os jogadores de ambas as equipas impuseram um ritmo acelerado ao jogo e fora das quatro linhas o clima acompanhava o encontro: muito frio e chuva forte. Era como se o céu já chorasse a tragédia que ia encerrar a partida.

Do jogo pouco se viu. Foi necessário chegar ao minuto 90 para ver Fernando Aguiar marcar o primeiro e único golo do jogo e dar a vitória aos encarnados. Esse e os seguintes minutos foram de festa no relvado e de euforia nas bancadas. O Benfica estava na frente do marcador e faltava muito pouco para que o jogo terminasse. Mas o pior momento daquele encontro e da história do futebol português estava por chegar.

Miklós Fehér foi o protagonista desse trágico momento. Não era titular no Benfica e estava a jogar muito pouco, mas naquela noite de inverno foi chamado por Camacho para substituir João Pereira, já na segunda parte do jogo. E aí, no Estádio D. Afonso Henriques, deixou o seu último sorriso.

Ao minuto 92 tentou impedir, com um ligeiro toque, um jogador vitoriano de fazer o lançamento lateral. O árbitro, de imediato, dirigiu-se a ele, mostrou-lhe o cartão amarelo e Fehér respondeu com um sorriso. Segundos depois apoiou-se com as mãos sobre os seus joelhos. Cansaço? Infelizmente não. Fehér aguentou pouco tempo naquela posição, acabando por cair inconsciente no relvado. Das bancadas vinham assobios porque pensavam que tudo aquilo não passava de uma estratégia de anti jogo.

Alguns jogadores aproximaram-se numa tentativa desesperada de evitar o pior, enquanto outros chamavam a equipa médica. Mas os seus esforços não foram suficientes. E naquele momento vimos, presencialmente ou através da televisão, o sentimento de incapacidade e a dor que aqueles jogadores sentiram. Tiago, com as mãos na cabeça, caminhava pelo relvado sem destino, Miguel ficou de joelhos no chão e com a cara tapada, Simão Sabrosa e Fernando Aguiar não conseguiam parar de chorar e os adeptos, que anteriormente viveram minutos de euforia, ficaram em silêncio absoluto. Miklos Fehér não voltaria a acordar, deixando-nos com aquele sorriso que, por mais anos que passem, jamais esqueceremos.



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